24.8.07

Cityscope - Dalí no Freixo


Na margem direita do rio Douro, para além do umbral Nascente da cidade do Porto, o Palácio do Freixo acolhe a exposição “Dalí no Porto”. O seu encontro é possível através de diferentes percursos: o mais imediato, menos atrativo e mais eficaz, destina-se aos visitantes vindos das vias de rápida circulação automóvel que podem utilizar a ligação pela VCI em direcção ao Freixo; para quem habita ou se encontra já no Porto, e dispõe de tempo suplementar, o percurso recomendado inicia-se desde a ribeira do Porto ao longo da marginal. Em direcção a Nascente contorna-se o Douro, à direita, e a escarpa de granito acometida pelos velhos muros e casas das Fontainhas, à esquerda, sobrevoam as pontes imensas construídas entre o Sul e o Norte - a ponte D. Maria, inutilmente abandonada, preserva a sua bela estrutura de ferro encravada entre duas margens; resta uma última viagem (de certo a mais restritiva) em barco pelo Douro até aportar na marina do Freixo em frente ao Palácio.

Chegados, a exposição contempla trabalhos menos conhecidos de Salvador Dali, fora das grandes pinturas surrealistas notabilizadas nos mais importantes museus mundiais. A selecção propõe obras do autor como ilustrador, representadas em litografias, xilografias e aguarelas. Mostra um desenhador exemplar aos jovens aprendizes das artes: delicado na “linha” de contorno (“O cavalo de Picasso”) e obstinado na criação diagramática da formas. Produções que mantêm a linguagem plástica de obras como ”O Grande Masturbador”,” A Persistência do Tempo” e que prossegue as temáticas mais recorrentes do seu percurso artístico. Da Espanha de D. Quixote de Miguel de Cervantes e o folclore da Tauromaquia aos clássicos greco-romanos e aguarelas biblícas. Também algumas das suas esculturas pontuam as salas do palácio pequenas peças ladeadas por outras de maior porte como o “Elefante Cósmico”.

A colecção representa um percurso intenso de produção, de um artista indiscutível no Surrealismo e da arte do século XX. O último trecho de exposição mostra fotografias do artista e do seu famoso bigode postiço que o eternizou como ícone da cultura contemporânea.

A qualidade da exposição associa-se ao belo Palácio do Freixo delicadamente recuperado pelo mestre Fernando Távora que reinstaura o esplendor de outrora preservando as feridas de anos de esquecimento. Ao longo do circuito expositivo encontram-se fotografias que lembram o estado ruinoso antes da reabilitação conscienciosa de Távora. Um recordo intrigante pelas dúvidas constantes e indecisões acerca do seu futuro por parte da tutela, a Câmara Municipal do Porto.
A escolha deste edifício, para uma tão notável amostra, parece acertada pela sua qualidade espacial e idílica localização defronte do Rio Douro, como pela irónica e surreal “plantação” de voluptuosos edifícios vizinhos. Não obstante a extensa quantidade de peças comprimem o edifício comprometendo a livre e fácil observação. Com o interesse da população e de turistas a comtemplação alinha o visitantes ao modo indiano, desde o átrio de entrada. Congestiona as salas e vista para uma óptimo e justa apreciação. Contudo torna-se impriscindivel uma visita ao Palácio do Freixo uma oportunidade única para ver Dalí e rara para revisitar o edificio junto á margem direita do Douro.

*por andré ramalhosa guerreiro. crítica de uma visita ao P.F. no dia 18 de agosto.