IA ex-cadeia da relação onde está “instalado” actualmente o Centro Português de Fotografia é daqueles edifícios que nos surpreendem sempre que lá vamos. O ar maciço e ameaçador do exterior transforma-se numa espécie de labirinto babilónico de corredores e escadas ligando salas impossíveis e grandes salões luxuriantemente iluminados por essas janelas que se esticam pela fachada. As possibilidades desse edifício são múltiplas e a equipa de arquitectos (Souto Moura e Humberto Vieira) que concebeu a reestruturação do edifício, fez um magnífico trabalho, realçando e mantendo as suas características e singularidades.
II
Para nós arquitectos, a escala das coisas, isso é, a relação entre os objectos, é fundamental para a construção no projecto de uma unidade harmónica e proporcionada. Pois, é precisamente este o problema do edifício da cadeia da relação, um problema de escala. Não de natureza formal, mas de natureza conceptual, isto é, a estrutura frágil e de pequena dimensão do centro português de fotografia cabe numa sala, não no edifício todo! Não há acontecimentos, eventos, exposições para a escala do edifício. As cinco ou seis fotografias de 30x20 afundam-se nas salas esticadas e cheias de luz. Não há ninguém, quase ninguém. Não há uma cafetaria ou uma esplanada que dê uso à praça em frente. Nota-se a falta de soluções, de ideias e de dinheiro. O CPF caberia numa daquelas belíssimas casas do século XIX portuenses ali para os lados de Miguel Bombarda, perto das galerias de arte. Um edifício mais à escala do próprio tamanho das fotografias que expõe.
E libertem a ex-cadeia! As potencialidades são infinitas, mas sobretudo se pensarmos que hoje em dia, e basta dar uma vista de olhos pela Europa, se deve adoptar sistemas diversificados e abertos É preciso encontrar soluções que agradem a um maior número de pessoas e isso significa diversificar a oferta, as actividades, os eventos e para isso não é preciso muito dinheiro, apenas criatividade. Posso fazer yoga, no mesmo espaço onde está uma exposição, posso mesmo almoçar ou jantar, posso ir a um concerto de jazz, a uma festa, até posso dormir aí – como recentemente se fez num museu da cidade de Berlim. E tudo no mesmo edifício! Há que ampliar as parcerias. Há exposições da FAUP, por exemplo, ou mesmo da FBAUP que poderiam estar aí. A exposição do Dali poderia perfeitamente ter sido montada lá. Fala-se tanto em modernizar a máquina do estado e os organismos públicos, pois comece-se! Pois, por enquanto, a cadeia da relação tal com está, aberta 3 horas por dia, é um desperdício e uma pena.
pedro levi bismarck. Crítica de uma visita ao CPF no dia 15 de agosto de 2007.
