[Estamos no Porto como costume, às quintas*]
Estamos no Porto como de costume, às quintas.
Seguramos os joelhos, descontraímos os olhos, prendemo-nos às ilusões e partimos.
Voamos.
Sempre parece um passeio, uma viagem, um intervalo entre o balanço e a margem. Um cheiro entre o vento e o nevoeiro,
Os percursos tornam-se estranhos, meio inventados, meio sinuosos, ora sobem, ora descem, transformam-se em tangentes inspiradas, que se cruzam para criar paredes e clarabóias que nos disputam o olhar. Segue-nos de perto o azul que afasta o laranja que mancha varandas e janelas.
Se não fosse a perspectiva a separar as cores, os nossos dedos estariam tingidos de transparências que se evaporam no rio. Durante a noite, as gaivotas atiram-nos cócegas e salpicos enquanto contornam as torres cobertas de histórias de homens. Quase adormecemos, quando desaparecemos com os olhos na ribeira a seguir milhares de vozes que sobem a ladeira em porto sentido. Ao princípio da tarde entre o sol e a lua, regressamos sem tempo. A gaivota também voltou.
Vislumbrámos anos de sonho e persistência.
Sacudimos os joelhos, fixámos os olhos.
Um abraço entre todos.
*por ana maria [www.anamaria.com.pt] pintora e professora de filosofia