22.11.07

user's guide | weekENd 48 horas |

[A morte serve-se fria!]
48 horas de um suicida
*Sexta-feira*

[18:00] Farmácia dos Aliados. Ouve-se em tom de desespero: “Quatro caixas de xanax e três de valium, por favor” pede o Zé-Ninguém ao responsável pelo estabelecimento, ao que este responde: “Primeiro arranje uma receita médica!” [18:20] No silo-auto, após ter atravessado a Av. dos Aliados, Zé-Ninguém estava impaciente… afinal seria difícil ter um suicídio pouco doloroso …ptx, o mundo estava perdido! [19:00] Último piso do Silo. “Fantástico” pensou ironicamente o Zé, agora também põem redes de protecção de andares [19:30] Taís, Brasileira Caliente, puxa o Zé-Ninguém para a dancetaria situada no mesmo piso [23:00] O suor da dança e do excitamento de estar a tocar numa mulher, após 23 anos de celibato, clareou o fundo do túnel de Zé... [00:10] Rua das Flores. Taís está uma fera rebolando loucamente em cima do Zé. Este tem a melhor noite da sua vida! Era apenas a segunda vez que tinha estado com uma mulher, a primeira tinha sido no campo de escuteiros em 1984 em Vieira do Minho… A miúda enganou-se e entrou na sua tenda confundindo-o com um dos seus colegas. Até entao tinha sido o melhor dia da sua vida!

*Sábado*

[11:00] Zé acorda sobressaltado no chão do apartamento! Taís tinha roubado toda a sua mobília e tudo o resto, a casa estava vazia! Traído e sem nada que o fizesse viver mais, sentia que só mesmo a morte o salvaria dos males terrenos. [12:00] Na casa Campos, destruído por dentro e por fora, Zé decide comprar uma espingarda. Ao lado do Teatro Sá da Bandeira, recorda-se desta loja desde tenra idade, entra finalmente mas sai passado dois segundos, pois ninguém lhe venderia uma caçadeira sem licença! …hmm...hmm “secretamente desejou estar no Texas” [14:00] Há uma hora que estava na Rua Passos Manuel a tentar saltar com um ar distraído para o meio dos carros, mas não estava a ter muito sucesso, havia pouco movimento e todos travavam a tempo. [15:00] Tinha 50 euros no bolso, por isso, decide ir ao Mc Donald’s do Via Catarina comer, comer tanto, até morrer enfartado [16:00] Ao quinto hamburguer, percebe que seria mais fácil saltar do 3º andar do shopping… [18:00] Morrer não seria fácil, cansado decide adiar por uns tempos a vontade e, viver à margem da vontade de respirar. [18:30] Com os 15 euros que lhe sobraram decide ir tentar a sua sorte ao Bingo do Salgueiros [19:30] Era uma noite especial, o Bingo oferecia como grande prémio da noite, um carro, uma mulher, um apartamento T5 na Baixa, um free-pass para os jogos do Salgueiros e um ipod nano! [20:00] Zé joga, como quem colhe limões à espera que lhe saíam laranjas, sem esperança. [21:44] BINGO! [21:45] “Quem foi o filho da p***?” ouve-se em uníssono na sala do Bingo [21:46] Zé-Ninguém passa a ser um Zé-Alguém! Saíu de Mercedes, com uma loira alugada no “Banco do Morto” a ouvir Bob Marley [23:00] Pé a fundo voou com Vanessa até Santa Maria da Feira. [00:00] Big Cansil! Uma noite ao som do sabor da sweet cocaine! La dolce vita! Dança, ri-se, em flirt com a vida, Zé decide que quer viver mais cem anos! Vanessa abana ao som de J.Lo e a noite decorre em excessos e euforia.

*Domingo*

[19:00] Zé-Alguém acorda no seu Big Apart ao som da estação de rádio que ecoava em Cedofeita. Sai de casa para ir tomar o pequeno almoço ou almoço ou lanche. [19:30] No Embaixador pede ao humilde empregado: “Um pratinho de rissóis de camarão e uma bejeka, por favor, que a vida corre bem!” Zé-Alguém marcava o seu lugar no mundo. [20:30] “Hmm este risolete estava uma delíciiiiiiiiiaaaarghhhhhh, dava a última trinca ao som de Sérgio Godinho quando …. [20:31] arghhhhhhh arghhhhhh glup strup …. Zé engasga-se com um osso de galinha e fica estendido no chão [21:32] “Cuidado”, gritavam uns velhotes na mesa ao lado: “Os rissóis de camarão têm ossos de galinha!”

*por Rita Afonso