Para tentar esclarecer (a mim incluído) sobre o que consiste o projecto da empresa TramCrone para o Mercado do Bolhão, aqui ficam algumas informações resgatadas do site da TCN e do JPN:
01#Toda a estruturação existente do espaço interior desaparece - incluíndo as bancas, as estruturas de apoio, os casinhotos e a bela escadaria norte. Fica basicamente apenas fachada!
02#Deixa de haver os pátios actuais, e o passadiço central também desaparece: o piso da rua Fernandes Tomás (o actual piso em galeria) irá ocupar toda a área do mercado, onde se vão instalar os restaurantes (do lado sul) e o mercado (do lado norte).
03#O piso da rua Formosa desaparece e divide-se em dois: que vão ser ocupados com um supermercado (lado norte) e com as novas "lojas-âncora" (lado sul).
04#Vai haver uma cobertura totalmente nova do lado dos restaurantes e do lado do mercado.
05#Em baixo, dois pisos de estacionamento. Nas fachadas, vai haver sobretudo habitação.
Área total = 25.730 m2
Lojas = 11.395 m2 (44% da área total)
Supermercado = 3.125 m2 (12%)
Habitação= 2.500 m2 (10%)
Restaurantes = 1.450 m2 (6% da área total)
Mercado = 760 m2 (3% da área total e cerca de 1/4 da área actual)
Presumo que os 25% (6500m2) restantes serão para circulações, armazéns e estacionamento
Assim, enquanto lojas, restaurantes e supermercado vão ocupar 62% da área total + circulações e armazéns que fará cerca de 70 % da área total, o mercado vai ocupar 3% da área total. Com estes números, com as características funcionais acima apresentadas e com todas as alterações arquitectónicas descritas, expliquem-me:
a) Como é possível dizer que se mantém a essência do mercado quando este vai representar apenas 3% da área total, muda para um sítio que nunca existiu na parte menos nobre do edifício (e não a mais nobre como diz Pedro Neves, basta ler o texto do Arq. Correia Fernandes para perceber) e se reduz em 1/4 da área actual?
b) Se uma coisa que tem 60% de área (sem contar com armazéns e circulações) para lojas, restaurantes e supermercado não se chama shopping, então caro Pedro Neves chama-se o quê? Bom, mercado não se vai chamar de certeza.
c) Como se pode dizer que não se vai demolir nada, quando todo o miolo e interior do edifício vai desaparecer. Para construir dois pisos novos, restaurantes e lojas numa área de 60% há-de ser preciso demolir alguma coisa.
d) Como é que a câmara aprova um projecto desta natureza sem exigir um projecto de arquitectura verdadeiramente detalhado, completo e descritivo daquilo que se altera e daquilo que fica?
e) Como é que a TCN, uma empresa sem experiência nenhuma em projectos de reabilitação, que está vocacionada para a promoção de retails, outlets em zonas periféricas das cidades, ganha um concurso de reabilitação de um edifício histórico no centro da cidade?
Não tenho nada contra adaptação do Bolhão, penso que é necessária e urgente. Acho que tem todo o potencial a mistura de valências (como já aqui disse), de novas lojas, restaurantes, esplanadas, até penso que a habitação pode ser uma solução. Mas é necessário manter o edifício, a sua traça, o seu sentido e configurações únicos, o seu potencial turístico e a sua identidade. Não é com 3% da área total que se propõe para o espaço de mercado que isso se vai manter.
Ps. Por lapso meu, no último texto acerca do Bolhão, escrevi Marques da Silva, quando era Correia da Silva o nome do arquitecto que queria referir, o responsável pela construção do mercado. A todos peço desculpa.