14.2.08

Cityscope - Um pouco menos de silêncio!


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News
#Concentração no Mercado do Bolhão, sábado, 10h [ver]
#Petição online [ver]
#O Mercado do Bolhão foi classificado como imóvel de interesse público [ver]
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Deixo aqui as respostas às perguntas colocadas por Correia de Araújo no seu último post na baixa do porto:

#O Mercado do Bolhão vai manter a sua traça original? Não, o que o projecto propõe é uma demolição total do interior e a total reconfiguração de todos os espaços, reduzindo para ¼ a actual área do mercado. A cobertura, os pisos intermédios, as torres da habitação, e toda a demolição do programa interior, irão desqualificar a estrutura arquitectónica existente e retirar o seu pontencial urbano e turístico.
#A demolição do miolo interior é necessária? Não conheço nenhum estudo que aponte como necessária a total demolição do espaço interior do edifício. O que é importante é adicionar novas funções, novos programas, que captem novos públicos e modernizem a estrutura. Sem que isso signifique destruir parte significativa do edifício.
#Está previsto estacionamento subterrâneo? Sim, "o projecto prevê dois pisos subterrâneos para cargas/descargas e estacionamento, com capacidade para mais de 200 automóveis." Mas sim, dois pisos mais, contando com a extensão total do piso actual que liga à rua fernandes tomás (que hoje funciona apenas em galeria).
#É só o projecto da TramCroNe que contempla estacionamento subterrâneo? Não! Ninguém põe em causa a necessidade de um estacionamento, nem de novos programas, nem da modernização da estrutura. Desde que isso não seja feito à custa da demolição parcial do edifício. Acrescentar e não retirar.
#E quanto à fachada do edifício? Apenas a fachada vai manter-se. Nos torreões do edifício surgirão torres de habitação (como já se pode ver em desenhos recentes)
#Habitação? Sim, e não vai ser em número reduzido a ver pelos últimas informações. Queremos mais habitação para a Baixa, mas recuperando os milhares de imóveis abandonados espalhados pela baixa.
#O que está previsto para os diferentes pisos? Área total = 25.730 m2; Lojas = 11.395 m2 (44% da área total); Supermercado = 3.125 m2 (12%); Habitação= 2.500 m2 (10%); Restaurantes = 1.450 m2 (6% da área total); Mercado = 760 m2 (3% da área total e cerca de 1/4 da área actual). Presumo que os 25% (6500m2) restantes serão para circulações, armazéns e estacionamento.
#Será mais um Centro Comercial na Baixa? Sim, a definição de centro comercial é uma superfície coberta, interior, de grandes dimensões, que junta uma grande diversidade de programas e funções. Não interessa se é puro e duro ou às cores ou às riscas.
#Então o que se pretende? O projecto da TCN pretende construir um shopping, não pretende reintroduzir moda nenhuma europeia dos mercados. Porque ele vai ocupar apenas 3% da área total do futuro edifício e porque a TCN é uma empresa habituada em investir em projecto de retail, outlet, shoppings e não em edificios históricos!
#Um mercado à semelhança do londrino Covent Garden? Sim, mas a reconversão do Convent Garden, não implicou a destruição do interior do edificio, bem pelo contrário, conseguiu-se modernizar sem destruir. Um exemplo sem dúvida! Manteve-se a cobertura, as estruturas, reorganizaram-se os espaços e as funções, mantendo o seu carácter histórico, turístico e urbano. Vejam aqui um pouco da história do convent garden. Aqui a imagem comparativa será antes, Les Halles em Paris [antes e depois]. Um redundante fracasso, que espera agora uma solução.
#E a polémica em torno deste projecto? Uma polémica normal numa sociedade europeia e evoluída, dado a má gestão do processo e a muito má qualidade da proposta apresentada. Estranho é o processo já ter chegado até aqui.

Caro Correia Araújo, o projecto para o mercado do bolhão levanta, quanto a mim, dois problemas: um problema de estratégia de cidade, de modelos urbanos, e, evidentemente, aqui cada um pode ter a sua visão pessoal. Eu penso que esta se constroi regenerando-se, reconstruíndo-se e não destruindo-se, provavelmente pensará de um outro modo. O outro problema: é uma questão de arquitectura. E neste ponto não restam grandes dúvidas, o projecto que a TCN nos deu a conhecer até agora é para qualquer arquitecto um mau projecto de arquitectura. Uma má hipótese de projecto e um desprezo total pela estrutura existente. Existem outras formas de rentabilizar, renovar e requalificar o mercado do bolhão sem que isso signifique a perda de um ícon histórico, urbano e cultural.
Encontrar esse equilíbrio é o papel do arquitecto. Mas em Portugal (ao contrário da Europa) o arquitecto é um ser estranho, é o tipo que nunca conseguiu ser engenheiro, metido no seu gabinete, faz umas casas estranhas. Despreza-se em Portugal (arquitectos incluídos e a sociedade em geral) a função interventiva destes na cidade, o seu papel social e cultural de mediador de interesses e construtor de soluções. Por isso, não ouvimos a Ordem, nem as suas secções regionais, nem os arquitectos no problema do Bolhão.
Um pouco mais de ruído, um pouco menos de silêncio, é o que a cidade precisa.

*Pedro Bismarck [
opozine]